terça-feira, 22 de abril de 2008

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o que sou neste instante?
sou uma máquina de escrever fazendo ecoar as teclas secas na úmida e escura madrugada.
há muito já não sou gente.
quiseram que eu fosse um objeto.
sou um objeto.
objeto sujo de sangue.
sou um objeto que cria outros objetos e a máquina cria a todos nós.
ela exige.
o mecanicismo exige e exige a minha vida.
mas eu não obedeço totalmente: se tenho que ser um objeto, que seja um objeto que grita.

...

o que me salva e o grito

(fragmento do livro Água Viva, da Clarice Lispector)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

marca registrada de fantasia

hj sinto-me particularmente violada pelo preço da coca-cola. paguei 5 contos numa pet. 5 contos! e o pior: não resisti. comprei assim mesmo. porque antes já havia sido violada pela marca registrada de fantasia. eduquei-me ao arroto que só a coca produz. condicionei-me àquele líquido preto durante as refeições. e antes delas. e depois. e fumando um cigarrinho. na ressaca então é remédio. torturaram-me as propaganda do refri feitas nos anos 80. agora não precisam mais investir em publicidade. todo o povo já foi violado. não tem pepsi que interfira nessa dependência. não tem genérica que valha a economia. todos de quatro pelo precioso produto. 5 contos. 5 contos por um arroto. me sinto idiotamente refém dessa porcaria. vícios lícitos são imposições do consumo. mas que é boa, é. vai um gole aí?

sábado, 19 de abril de 2008

Busca da Fecalidade!


Onde cheira a merda cheira a ser. homem podia muito bem não cagar, não abrir a bolsa anal mas preferiu cagar assim como preferiu viver em vez de aceitar viver morto. Pois para não fazer cocô teria que consentir em não ser, mas ele não foi capaz de se decidir a perder o ser, ou seja, a morrer vivo. Existe no ser algo particularmente tentador para o homem algo que vem a ser justamente COCÔ ( AQUI RUGIDO) Para existir basta abandonar-se ao ser mas para viver é preciso ser alguém e para ser alguém é preciso ter um OSSO, é preciso não ter medo de mostrar o osso e arriscar-se a perder a carne. homem sempre preferiu a carne à terra dos ossos. Como só havia terra e madeira de ossos ele viu-se obrigado a ganhar sua carne, só havia ferro e fogo e nenhuma merda e o homem teve medo de perder a merda ou antes desejou a merda e para ela sacrificou o sangue. Para ter a merda, ou seja, carne onde só havia sangue e um terreno baldio de ossos onde não havia mais nada para ganhar mas apenas algo para perder, a vida. reche modo to edire de za tau dari do padera coco Então o homem recuou e fugiu. E então os animais o devoraram. Não foi uma violação, ele prestou-se ao obsceno repasto. Ele gostou disso e também aprendeu a agir como animal e a comer seu rato delicadamente. E de onde vem essa sórdida abjeção? Do fato de o mundo ainda não estar formadoou de o homem ter apenas uma vaga idéia do que seja o mundo querendo conservá-la eternamente? Deve-se ao fato de o homem ter um belo dia detido a idéia do mundo. Dois caminhos estavam diante dele: o do infinito de fora o do ínfimo de dentro. E ele escolheu o ínfimo de dentro onde basta espremer o pâncreas, a língua, o ânus, ou a glande. E deus, o próprio deus espremeu o movimento. É deus um ser? Se o for, é merda. Se não o for, não é. Ora, ele não existe a não ser como vazio que avança com todas as suas formas cuja mais perfeita imagem é o avanço de um incalculável número de piolhos. "O Sr. Está louco, Sr. Artaud? E entao a missa?" Eu renego o batismo e a missa. Não existe ato humano no plano erótico interno que seja mais pernicioso que a descida do pretenso Jesus-cristo nos altares. Ninguém me acredita e posso ver o público dando de ombros mas esse tal cristo é aquele que diante do percevejo deus aceitou viver sem corpo quando uma multidão descendo da cruz à qual deus pensou tê-los pregado há muito tempo, se rebelava e armada com ferros, sangue, fogo e ossos avançava desafiando o Invisível para acabar com o JULGAMENTO DE DEUS
ARTAUD...


http://http://br.geocities.com/jerusalem_13/josephartaud.html

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Gorilas


olá,


Hoje é minha estreia nesse blog, então já vou começar a impregnar contando a minha versão dum ocorrido bem cotidiano!


Um dia desses eu tava na fila do Banco do Brasil observando o ser humano enquanto esperava minha vez e percebi que todos não passam de animais. Será que os Gorilas ao se olharem percebem diferença entre eles como nós percebemos em nós? Sei que achei os homens mais animalescos(visualmente falando, com seus traços mais grosseiros, com a fronte mais baixa e a grande quantidade de pêlos que, nós mulheres, não temos).

Toda vez que vou ao banco o Homem me chama muita atenção, é como se eu pudesse enxergar com os olhos de estranheza, de quem não pertence a isso, a humanidade.
O Homem na verdade me parece mais um parasita a um Gorila, fazendo fila pra pegar papel!
Hilda...

terça-feira, 15 de abril de 2008

...tudonumblocodoprograma...

vamos ter que nos habituar a conviver com o mosquito da dengue. O clima do rio é propício à proliferação do mosquito. não há como evitar. se não somos competentes pra evitar a epidemia, seremos competentes pra evitar os óbitos : jabor : o carioca reclama, mas afoga tudo no choppinho, na cerveja do fim de semana. tudo isso num bloco do programa. ninguém pra socorrer. alguém pra dizer que não dá pra naturalizar. nem dá pra esquecer. não dá pra economizar. socorro.

Violação da essência...

Violar a mãe ..., despudorado, é proibido em praticamente todas as culturas. Violar a essência e a existência de si mesmo. Viola-te a ti mesmo como aos próximos. Violino, viola, violeiro... violando o silêncio faz-se o som seco de uma violação calada, um peito apertado, palpitante, violento. Atemorizado violas as leis pétreas. Adão violou a árvore sagrada e foi expulso do Éden. Por ganância e tentação, violou o amor a Deus. Comeu do fruto proibido, mas o que seria da proibição não fosse sua violação? Seria algo tenaz, opaco, sólido, inviolável. O que seria do Brasil não fossem as sucessivas violações de sua terra, sua honra e sua alma? O que seria da política, se os políticos tivessem que meter sua viola no saco e num “adeus, viola”, devolver à mãe a honra violada? Violência do mar sobre a costa, devorando suas areias, engolindo todo o saber humano. Denota que inviolável mesmo é só o desejo de não permitir que violação alguma passe em branco, inviolável é o desejo de não-violência. Violentada seja a parcimônia excessiva, o comodismo, o jeitinho. Inviolável sejam o bom senso, a causa e a luta. Violar a essência é como violar a mãe. A violabilidade da manutenção da ordem só é menos impossível que a própria ordem. Ordem de quem? Do violento violal que floresceu no jardim. Assim, Violeta... desse modo violentado, violando os paradigmas, vamos tocando a nossa viola sem corda.

sábado, 5 de abril de 2008

início

o sol rompe manhãs violando madrugadas. o grito seco viola o silêncio da rua deserta. toda a nossa tolerância é roubada nas filas do sus e dos bancos. tarjas pretas transformam infâncias em infrações. conhecimentos científicos contaminados pelo pedantismo acadêmico. políticas públicas distorcem a democracia. chantagens econômicas aprisionam os sonhos. o lucro violenta a criação e as artes. a música é abafada pelas bundas. a literatura prostituída em prateleiras de auto-ajuda. a memória se perde na pressa. violações cotidianas que engolimos a seco. qualquer paralisia repentina não é mera coincidência. acostumamo-nos às ataduras da alienação. Sobrevivemos naturalizando aberrações.

rasgando o verbo, desfiando os nós, costurando humor e indignação, este espaço é vitrine dos desabafos. um olhar diferente sobre os incômodos ditos rotineiros. espaço de denúncia dos pequenos furtos isolados, aqueles que vão nos tirando a crença e a credibilidade, que vão nos transformando em objetos mudos e conformados. um dia sartre disse mais ou menos assim: não importa o que fizeram com a gente no passado. importa o que a gente faz com o que fizeram com a gente no passado. e é por aí. quebrando paradigmas sempre...